UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.
FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA BAIXADA FLUMINENSE
CURSO DE PEDAGOGIA – LICENCIATURA DAS SÉRIES INÍCIAIS
E EDUCAÇÃO INFANTIL
COOEDRNAÇÃO DE PRÁTICA DOCENTE VI
METODOLOGIA : A CONSTRUÇÃO DA LEITURA E DA
ESCRITA NO PEJ.
Estágio realizado na Escola Municipal prof. XXXX, orientado pela profª Marize Peixoto em cumprimento da exigência da disciplina de Prática Docente VI.
POR: CECÍLIA MARIA BARROS DE ALCÂNTARA.
DUQUE DE CAXIAS
JULHO DE 2004.
INTRODUÇÃO
“Uma das tarefas mais importantes da prática educativa-crítica é propiciar as condições em que o educando em suas relações uns com os outros e todos com o professor ou professora ensaiam a experiência profunda de assumir-se. Assumir-se como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de amar. Assumir-se sujeito, porque é capaz de reconhecer-se como sujeito.” (FREIRE, 1999, p.46)
Na educação, uma instituição escolar deve buscar um currículo comum de experiências cognitivas, afetivas, sociais e referências culturais, levando em conta, ao mesmo tempo, na cultura dos alunos, uma cultura mais ampla, para que com isso, este aluno reconheça-se como ser social e histórico.
Pensar escola significa assumir relações entre pessoas, meio ambiente, trabalho, cultura, etc, numa relação de reciprocidade, sem desconsiderar as diferenças sejam elas quais forem.
Sendo a escola mediadora nesse processo, esta poderá trabalhar no sentido do conhecimento da realidade do aluno que nela está inserido, realidade esta, que exige uma forma metodológica de abordá-la e que permita que seja apreendida do ponto de vista do conhecimento para a transformação da sociedade em que vivemos. Nesse processo de transformação não só desta sociedade, mas, também, do sujeito nela inserido, de um lado está o aluno com seus sonhos, suas inquietações, seus anseios, sua real linguagem e do outro lado, os professores, com a necessidade de reconhecer na prática, que ninguém está só, reconhecer nos outros o direito de falar, direito este que corresponde ao direito de ouvir.
Como afirma Freire (1986, p.83): “Não é possível praticar sem avaliar a prática...a avaliação corrige a prática, melhora a prática, aumenta a nossa experiência.” Assim sendo, este trabalho visa perceber se no contexto da Escola Municipal a prática metodológica busca abordar uma ação transformadora, se há troca de saberes e se estes se dão de forma efetiva, com o aluno interagindo com o objeto do conhecimento e o professor, refletindo sobre sua prática cotidiana, sendo porém esta prática, fundamentada por teoria(s).
Sobre o referencial dessa pesquisa, será usado o Construtivismo e a metodologia de Paulo Freire para analisar se a postura do professor está em consonância com o que afirma em sua fala, e o que ensina no cotidiano escolar. Também, buscarei perceber se, este professor, usa o referencial teórico para sua prática metodológica, para colocar metas e finalidades, para tomar decisões ou para muda-las quando for adequado.
A Escola Municipal profº XXXX, está situada no município do Rio de Janeiro, Estrada da Cancela Preta s/n, Conj. 06 de Novembro, Bangu. Esta escola abrange o Ensino Fundamental, da 5ª à 8o série que funciona durante o dia, sendo que, durante à noite, funciona o PEJ, (Programa de Jovens e Adultos).
Esta escola, atende além a comunidade do bairro, outras comunidades que são muito carentes e cujo contingente adulto precisa desse tipo de ensino diferenciado.
Escolhi a Escola Municipal profº XXXX, por ter esta escola turma de PEJ e por permitir o estágio sem problemas.
Esta pesquisa será feita em forma de observação e co-participação para saber como está sendo feita a prática metodológica na turma de alfabetização do PEJ, se esta prática privilegia a transformação social, o saber e o fazer, se faz a mediação entre o saber e a realidade do aluno, levando-o com seu processo de conhecimento a apropriar-se criticamente de sua realidade e do cotidiano vivido. E se estes são incluídos no contexto social de cidadãos com direitos e deveres a serem respeitados e reconhecidos, em síntese, perceber se o professor trabalha na concepção do Construtivismo e na metodologia de Paulo Freire como pano de fundo.
Antes de começar o estágio, já havia decidido que tipo de estratégia, que grau de envolvimento, eu deveria ter em minha observação, para que este se torne um instrumento fidedigno e válido de investigação e para fundamentar esta pesquisa, cerquei-me de vários autores que me deram subsídios para esta tarefa permitindo-me assim os esclarecimentos que permearão minha pesquisa ao longo do percurso.
Sobre a observação, (JUNKER,1971, p. 29) revela; “É o que não oculta totalmente suas atividades, mas revela apenas parte do que pretende”. Isto é, ao explicar os objetivos de seu trabalho para o pessoal da escola, o pesquisador pode enfatizar que centrará a observação nos comportamentos dos alunos, embora também pretenda focalizar os professores e toda a equipe pedagógica. A preocupação é não deixar transparecer totalmente o que pretende, para não provocar muitas alterações no comportamento do grupo a ser observado, sendo que esta posição envolve questões éticas óbvias.
Assim, parto para a escola com todas as expectativas possíveis para uma situação dessa. Ao chegar, fui bem recebida pelo diretor, sendo que meu primeiro contato com a direção da escola foi feito com ele sem problemas.
Como foi pedido pela professora Marize da disciplina Prática Docente Vl, fiz somente o relato de algumas das minhas idas à escola neste trabalho no período de 80 horas de estágio.
Assim sendo, ao iniciar o estágio, sou bem recebida pela professora XXXX, nesta noite, ela já me fala que este é seu primeiro ano em turma do PEJ, que dá aulas em outra escola municipal próxima, sendo que no momento está em sala de leitura.
Sobre a avaliação, ela afirma que ao final de cada semestre, os alunos passarão para outros blocos de conhecimento, e que esta não é aprovação automática e que pode ocorrer a retenção se for necessário. Com relação a isso, o documento (em anexo) do Programa de Educação Juvenil – PEJ, 2004, informa:
¨... a evolução do aluno ocorrerá por avaliação da equipe de professores a qualquer momento do curso; criação de materiais para auxiliar na avaliação do aluno; elaboração de relatório individual por aluno ao final da Unidade de Progressão.¨
Dessa forma, não há reprovação no sentido convencional, o aluno vai adquirindo seu aprendizado, sempre confrontando, questionando seus conhecimentos que são necessários a construção do seu saber.
A professora, afirma que recebeu da SME para todos os alunos, um livro (anexo) de Português; Coleção Viver, Aprender. Educação de Jovens e Adultos (módulos 1 e 2) que equivalem a 1ª e 2ª séries do Ensino Fundamental. Ao abri-lo, veja textos variados sempre voltados à realidade dos educandos de Jovens e Adultos, mais tarde, verei que este livro será deixado de lado por cópias de livros de alfabetização para crianças, cuja hipótese, é a idéia de que o aluno precisa memorizar e fixar informações supondo-se que a língua escrita é o espelho da língua falada. Mais isso, vocês perceberão no decorrer do texto.
Após isso, a professora continua sua aula e começo minha observação, sendo observada por ela e por seus alunos que estão curiosos com minha presença, pois, apesar de estar em sala, não fui apresentada a eles. As atividades nessa noite foram:
· Que os alunos fizessem frases com as letras dadas (d, f, c, m)
· Problemas de adição envolvendo palavras que eles construíram (se lembravam) como: mamãe foi ao supermercado...
Em resumo, essa foi à aula dessa noite, que foi toda pautada em cópias de cartilha de alfabetização para criança, infelizmente, esta será o tipo de atividade que ela dará aos seus alunos durante todo o estágio, será que a metodologia da professora está de acordo com uma metodologia própria para estes alunos? Depois veremos. Este foi meu primeiro dia de estágio sem muitas surpresas.
Na manhã seguinte, fui para a secretaria, pois, teria que completar neste recinto minha carga horária que por impedimento meu só poderia estar na escola às 2ª, 3ª, 4ª 5ª e 6ª feira à noite. Para perfazer 20hs semanais, às 4ª feira estaria de manhã na secretaria subordinada à secretária Luci, onde também fui bem recebida.
Ao retornar á escola, tive uma surpresa; a professora XXXX me fez um pedido que veio do diretor, para que excepcionalmente hoje, ficasse na turma da professora XXXX (bloco II) que estava doente. Aceitei, a profª XXXX me entrega uma folha (cópia), com vinte e duas contas de adição, subtração, multiplicação e divisão. Fui apresentada à turma, depois passei o trabalho no quadro e disse que para a correção eles iriam ao quadro. Após minha fala, disseram que a professora deles fazia a correção sozinha no quadro e eles corrigiam no caderno. Mesmo assim, alguns fizeram o que pedi. Tudo transcorreu tranqüilamente, mas percebi que a metodologia era a mesma.
Na noite seguinte, à professora XXXX me mostra uma coleção que comprou da editora Claranto Palavra em Ação, 1º segmento do Ensino Fundamental (EJA), da autora Adriana de Oliveira, que ela afirma usar como apóio.
Apos me mostrar os livros, ela começa a aula colocando um texto (anexo) ¨A nuvem¨, que foi colado no quadro. Antes de ler, ela começa a perguntar aos alunos sobre o tema ¨água¨, afirmando que hoje é a culminância do Projeto do Meio Ambiente que é realizado em todas as escolas do município. Depois disso, lê outro texto que fala de como as pessoas lidam com o meio ambiente, faz perguntas, fala dos estados físicos da água encontrados na natureza, da estação de tratamento da água do rio Guandu, (isso só ocorre por questionamento dos alunos, sobre a água que bebemos que vem desse rio, tudo isso eles sabem, mas, a professora não percebe o rico material que tem em mãos, a vivência de mundo desses alunos). A partir do texto dado por ela, começam as atividades que é fazer frases sobre a água. Depois de algum tempo, dá uma folha para os alunos para casa, devem fazer um desenho sobre um pedaço de lixa, colar na folha e depois fazer um texto ou frases sobre o conteúdo dado em aula.
Aqui cabe uma ressalva, quando ela começou a falar sobre o texto, pensei que fosse argumentar sobre nosso bairro, que é Bangu, sobre nossa comunidade onde atualmente é um conjunto habitacional e já foi uma imensa fazenda com muitas plantações e mata nativa da região, sobre a fábrica de tecidos Bangu, que poluiu o principal rio do centro do bairro, onde há algum tempo atrás, ainda em atividade, diariamente despejava em seu leito, o rescaldo das tintas dos tecidos e, cada dia o rio estava com uma cor diferente. Com certeza, os alunos se lembrariam, pois não faz tanto tempo que a fábrica fechou suas portas. Ela deixou passar uma ótima oportunidade de buscar no cotidiano dos alunos à vontade de quem sabe, poder lutar por melhores condições de vida.
Sobre esta questão, isto é, o compromisso, a atitude de um educador crítico, consciente de fazer a mediação entre o aluno aprendiz e a sua transformação na sociedade, LIBÂNEO, 1994, p.(48) faz uma crítica ácida.
¨O compromisso social, expresso primordialmente na competência profissional, é exercido no âmbito da vida social e política. Como toda profissão, o magistério é um ato político porque se realiza no contexto das relações sociais quando o professor se posiciona consciente e explicitamente, do lado dos interesses da população majoritária da sociedade, ele insere sua atividade – ou seja, sua competência técnica – na luta ativa por esses interesses: a luta por melhores condições de vida e de trabalho e ação conjunta pela transformação das condições gerais (econômicas, políticas, culturais) da sociedade.
Essas considerações são pertinentes, à medida que, ocorre uma preparaçâo profissional com ênfase no trabalho docente, no cotidiano escolar. A mediação deve ser feita entre o aluno e o saber e o professor deve buscar responsabilidade e permanente empenho na instrução e educação de seus alunos. Tendo em vista, ajuda-los a enfrentar a vida prática, mesmo sendo adultos, para que possam agir atuar em prol de sua transformação e a transformação da sociedade a sua volta.
Quando há flexibilidade na metodologia do professor, a participação do aluno no processo do ensino – aprendizagem se dará de forma natural. Nesse caso, o professor funcionará como uma estrada que a cada passo que seu aluno dê, ele (professor) estará lá para apóia – lo na sua condição de aprendiz.
Em outra aula, a professora deu a seguinte atividade:
· Leia a poesia abaixo:
O chão e o pão.
O chão.
O grão.
O grão no chão
O pão.
O pão e a mão.
A mão no pão.
O pão na mão.
O pão no chão. Não.
(Cecília Meireles)
Ao ver a poesia, percebi uma ótima oportunidade de trabalhar a conscientização nos alunos aa respeito da fome, miséria, pobreza, etc, mas, logo a seguir ela passa para a atividade seguinte sem explicar todo esse processo de cidadania, que estava escrito em poucas, mas, sábias palavras. O único uso do texto foi à questão da acentuação gráfica, o til (~) que foi usado como recurso para ser colocado onde fosse necessário nas palavras que foram as seguintes: pão, cão, limão João, lâ, etc, novamente fiquei frustrada.
No dia da entrevista, (anexo) ela fala da sua visão da turma, e que seus alunos são da classe baixa, sendo que um bom número veio do nordeste, estão na faixa etária de 18 a 68 anos.
Sobre o desempenho da turma, afirma que é regular, faltam muito e alguns conseguem ler e escrever.
Sobre seu método, este é uma mistura, usa o Construtivismo e suas experiências em turmas regulares.
Sobre as estratégias, materiais que utiliza como suporte em sala afirma que lê livros, apostilas e tem reuniões periódicas com a Coordenação Pedagógica e a ?ª CRE.
Com respeito aos pontos favoráveis e os desfavoráveis, ela destaca no desfavorável, a falta de capacitação e a resistência dos alunos ao seu método em sala. (Aqui é interessante ver sua resposta sobre os alunos)
No que diz respeito aos pontos favoráveis, destaca – se que apesar das dificuldades consegue – se alcançar os objetivos.
Sobre suas respostas, é preciso destacar que, infelizmente, sua postura em sala não condiz com sua fala na entrevista, quando afirma que é construtivista, nem tampouco utiliza os temas geradores de que tanto Paulo Freire falou, ela segue a risca uma metodologia pautada na educação tradicional.
De qualquer maneira, o entrosamento sempre foi bom, comecei a participar efetivamente como se fosse mais uma professora da turma, acredito que ela já não me via como uma ameaça. E assim, comecei a ajuda – la com os alunos, em especial, dois deles, o sr. Ari e a sra. Margarida, ele, cujo objetivo era aprender a ler e escrever par no fim do ano ir ata o Rio Grande do Norte mostrar a filha de onze anos que já sabe ler e, ela, que quer aprender junto com a irmã que está na mesma sala.
Devo dizer que neste momento, por vezes fiquei tentada a utilizar a metodologia freireana, tanto com a sra.Margarida quanto com o sr. Ari, mas a ética impediu – me.
Passado o tempo, o entrosamento entre eu, os alunos e a professora era constante, tanto que mesmo terminando o estágio, convidara – me para a festa de encerramento na turma que será no dia 14.
No período de 1 a 6 de julho, ocorreram as avaliações no PEJ. Para não assustar os alunos, a professora sempre dizia que era uma revisão para a prova, em particular ela afirma que se dizer que é prova no dia seguinte ninguém virá à aula. Sendo que a sra.Margarida não está sendo avaliada pois, só tem um mês de turma e continuará neste mesmo bloco no próximo período. Sobre a autonomia dos alunos em relação à prova, só uma minoria consegue fazer sozinhos algumas questões, o resto sempre pede ajuda tanto dos próprios colegas, quanto da professora, como estou na sala, também pedem minha ajuda.
Em duas das avaliações, nos dias 30/06/ e 02/07, algo interessante aconteceu, mesmo com a explicação da professora, os alunos não entenderam a atividade e, com a saída da professora por momentos, eles pedem ajuda, então, pedi que lessem mas, continuam não entendendo. Então, li, tentei explicar de maneira que buscassem resolver a questão, eu não queria interferir muito no trabalho da professora. Ao final, estavam uns ajudando os outros. Aqui, cabe uma observação, as atividades usadas nesta avaliação, eram de um livro de alfabetização de EJA (anexo).
No dia seguinte, as atividades eram do mesmo livro, ela afirma que, tirou várias cópias de páginas desse livro que conseguiu de outra professora, nesse mesmo dia os alunos já começaram a faltar, pois, perceberam que estavam em provas. Outra curiosidade, é que eles se auto-avaliam, afirmando que só querem ¨passar de ano¨ quando souberem ler e escrever.
Nos dias 06/07 e 09/07, houve a avaliação da leitura e escrita (anexo), com o objetivo de saber se os alunos conseguem fazer com autonomia o que o texto exige como formular um pequeno texto com travessão, letras maiúsculas, ponto, vírgula, etc.
Mesmo pedindo que tentem fazer sozinhos, eles interagem com o colega do lado, formando o que Vygotsky afirmava ser ZDP, ou seja, zona de desenvolvimento proximal, onde um aluno que sabe mais ajuda o outro que sabe menos. Esta é uma das bases teóricas que a professora XXXX afirma trabalhar. Nesta atividade, um desenho de festa de São João, a professora procura ajudar colocando algumas palavras no quadro sobre o tema, enfatizando que não podem formular frases soltas. As palavras foram; São João, balão, fogueira, comi, bolo, fubá, etc.
No dia seguinte, ela dá aos alunos outra folha (anexo) contendo três desenhos, sendo que o primeiro tinha um homem enforcado em uma árvore e nesta árvore, o desenho de um coração escrito João e Maria com uma flecha transpassando-o, os alunos deveriam fazer a leitura e formular um pequeno texto ou frases. Um dos alunos disse o seguinte: ¨O cara tava devendo.¨ dando para perceber que esta é uma realidade de violência de sua visão de mundo, nenhum conseguiu entender o que realmente se passava na cena. No segundo quadrinho, tinha um canibal com os talheres na mão e um homem cozinhando no caldeirão, este homem fala a seguinte expressão: ¨Ra, Ra Ra, Caguei!¨. de todos os alunos, só dois conseguiram entender o que estava escrito, um deles escreveu: ¨Ra, Ra Ra, caguei na panela minha carne não presta¨, o outro escreveu o seguinte: ¨Ra, Ra, Ra, caguei na panela seu burro ¨. No terceiro quadrinho, um dos alunos falou o seguinte: ¨Como o cara pode comer se jogaram Baygon na comida dele?¨. poucos entenderam a mensagem contida nos quadrinhos mas, conseguiram as frases com ajuda da professora.
Este foi o último dia do estágio, voltarei à escola sem os vínculos do estágio na próxima semana que será de encerramento e festa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS.
¨...criar uma nova relação entre a escola e os professores de um lado, e os jovens alfabetizandos de outro. Uma relação de troca entre o saber universal e científico da escola e o saber das camadas populares, produzido em sua luta diária pela sobrevivência.¨ (Documento original do PEJ-1985, p.7)
¨Inicialmente me parece importante reafirmar que sempre vi a alfabetização como um ato político e um ato de conhecimento, por isso mesmo criador. Para mim seria impossível engajar-me num trabalho de memorização mecânica dos ba, be, bi, bo, bu, dos la, le, li, lo, lu.¨ (Freire, p.19, 2003)
“Cada escola é uma escola, e sendo assim, cada uma deve se constituir num local único, singular, diferente de todas as outras”. (Multieducação, p.217, 1999)
Em uma instituição escolar, diretores, professores e, também, os alunos devem ter o direito e responsabilidade de pensar uma escola, que contemple as necessidades educacionais desses alunos, seus conhecimentos prévios.
Seus professores devem desenvolver atividades com significado para o aprendizado de seus alunos, e estes tendo a possibilidade de compreender e relacionar os conhecimentos que vão adquirindo a situações reais de vida.
O papel do educador é o de ajudar o aluno a construir sua identidade, que sempre será única, levando-o a transformação para entender criticamente o ‘mundo¨ que o cerca. Sendo a escola um dos espaços mais importantes para este mundo, esta deve mediar o aluno para perceber as intensas mudanças e conflitos que nele ocorre.
Nesta escola, houve alguns momentos em que vi estes processos acontecerem, e, estes não foram muitos. Os conteúdos ainda são dados de forma mecânica, com exercícios repetitivos, textos sem contextos, etc. A quem culpar? Educadores? Pais? Órgãos governamentais? Acredito que todos, somos culpados, mas, grande parte dos professores continua a defender um legado cultural que quer uma escola pública sem qualidades, onde o “fracasso escolar” e a “evasão” a ¨repetência¨ constrói e sedimenta o cidadão analfabeto funcional que hoje está no PEJ buscando apesar de todas as dificuldades, a cidadania, e a democracia num mundo onde quem sabe ler e escrever, delega àqueles que não sabem o papel de mero coadjuvante, onde a conclusão da educação básica é mérito, privilégio de poucos, de quem detêm o poder.
Devemos repensar nossa metodologia, buscar capacitação, refletir o contexto que aí está, e nessa construção, aperfeiçoar a nossa prática, nos avaliando e reavaliando constantemente. Sobre esse processo, os PCNs concluem:
“A qualidade de atuação da escola não pode depender somente da vontade de um ou de outro professor. É preciso a participação conjunta dos demais profissionais (orientadores, supervisores, professores polivalentes e especialistas) para tomada de decisões sobre aspectos da prática didática, bem como sua execução. Essas decisões serão necessariamente diferenciadas de escola para escola, pois dependem do ambiente e da formação dos professores”. (p.105)
Numa luta onde não há escola para todos, expressões como: “educação é um direito de todos”, “escola pública de qualidade”, torna-se discurso oficial e vergonhoso na política educacional brasileira. É primordial buscar uma educação que capacite profissionais que tenham o compromisso de repensar, refletir uma perspectiva de educação diferenciada, possibilitando que este processo se baseie numa construção de uma sociedade mais justa, solidária e democrática.
Caberá a todos envolvidos nesse processo, fortalecer a escola como ambiente favorável para o sucesso do aluno, tanto aquele que inicia a educação na idade certa, como aquele que já está fora da faixa etária e não conseguiu acesso à escola por diversos motivos, permitindo a formação de cidadãos conscientes e participativos, mais do que mera transmissão de conteúdos informativos. Ë fundamental, que também o professor, tenha a possibilidade e responsabilidade de refletir sobre suas convicções e desejos relacionados à sua prática pedagógica. Sendo esta escola uma unidade autônoma, deve permitir-se; organizar-se estar aberta as experiências, autocríticas, avaliação. Ser ponto de partida para uma educação significativa, uma instância mediadora no processo ensino-aprendizagem.
No processo de transformação que o sistema educacional do Brasil está passando, transformação no sentido de implementação de políticas de enfrentamento, a Prefeitura do Município do Rio de Janeiro, faz o seu papel, buscando levar a estes alunos que haviam abandonado a escola, certamente por vários motivos como distorção idade/série, repetência, ingresso prematuro no mercado de trabalho, etc. A esse respeito, o Parecer nº 03/99 da SME afirma:
¨Numa sociedade historicamente caracterizada pela exclusão, não podemos chegar ao 3º milênio com jovens sem direitos, com jovens sem perspectivas, com jovens abandonados à própria sorte, sem direitos à educação formal.¨(p.4)
Contudo o problema está aí, o desafio também, resta garantir o sucesso escolar, a jovens que não o tiveram no seu tempo devido. Sobre isso, um dos principais elementos para um bom rendimento do aluno, é o professor. É necessário que esteja sempre atualizado devidamente formado e treinado para se adaptar as condições dentro de uma turma de jovens e adultos e que sua metodologia perceba no aluno, uma construção consciente do mundo que está a sua volta, e nesta construção, ele consiga ser crítico, pensante, comprometido com seu próprio processo de aprendizagem.
BIBLIOGRAFIA
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à pratica educativa.SP, Paz e Terra, 1999.
......................... A importância do ato de ler: em três artigos que se completam, Cortez: São Paulo, 2003.
INEP – A educação no Brasil na década de 90: Inep/MEC, Brasília: 2003.
........ – Sincronismo idade/série: um indicador de produtividade do sistema educacional brasileiro. Série Documental/Carlos Eduardo Moreno Sampaio, Inep/MEC, Brasília: 2002.
........ – Educação de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998). / Sérgio Haddad (Coord.) – Brasília MEC/Inep/Comped, 2002
JUNKER, B. H. , A Importância do Trabalho de Campo. RJ, Lidador, 1971.
LUKCESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. SP: Cortez,1994.
MULTEDUCAÇÃO – Núcleo Curricular Básico, Prefeitura do Rio de Janeiro, 1996.
PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais. Ministério da Educação e do Desporto, Brasília, 1997.
PROJETO DE EDUCAÇÃO JUVENIL – Prefeitura do Rio de Janeiro SME – 2004.
WEISZ, Telma. O diálogo entre o ensino e a aprendizagem. SP; Ática: 2001.
ENTREVISTA
Entrevista com a professora XXXX regente da turma de PEJ da Escola Municipal Pro. XXXX.
1 – Qual sua visão da turma? (desempenho, nível de conhecimento)
É regular, pois, faltam muito. Em alguns alunos percebo que o desempenho é acima do esperado porque já tem uma vivência de escola antes. A maioria já consegue ler e escrever, é uma turma heterogenia.
2 – Qual o método utilizado? Quais estratégias, materiais, suportes?
Leio livros, apostilas a respeito de EJA. Capacitações, inclusive, na quarta-feira dia 28/06/04, haverá uma reunião com a Coordenadoria em que o assunto será sobre a educação continuada ao longo da vida, (a professora me mostra os textos – anexo) tudo passado pela SME.
3 – o que a ajudou a optar por essa metodologia? Ela tem base teórica?
O que me ajudou foram as experiências anteriores com turmas regulares e também capacitações da SME e ?ª CRE. Sobre a base teórica, trabalho com o Construtivismo, Vygotsky, Emília Ferreiro, entre outros.
4 – Faça uma ¨crítica¨sobre os pontos favoráveis e os pontos desfavoráveis a essa opção.
Desfavorável – Por ser novidade, não se tem muita experiência no método, (aqui ela fala dos alunos sobre o seu jeito de ensinar), também sobre a necessidade de mais capacitação. Os alunos ficam resistentes a este tipo de método, como por exemplo: para entenderem a escala decimal, eles reclamaram que era coisa de criança e, mesmo assim não entenderam a explicação. Também sobre os livros infantis (histórias) foi à mesma crítica: era coisa de criança. (Aqui é bom lembrar que eu estava na sala neste dia, os alunos reclamaram das histórias serem para crianças, isto é, não estavam adequadas para sua faixa etária). Até sugeri contar uma história de um livro que falava de direitos humanos mas, ela adiou, adiou e não foi possível lê-lo e nem os alunos contaram em sala sobre seu livro.
Desfavoráveis: Apesar das dificuldades, alcança-se o objetivo proposto.
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